Tudo começou com um estudo encomendado por uma associação britânica de editores que concluiu que cerca de 86% dos leitores vê com bons olhos a indicação de uma recomendação etária nos livros para crianças (ou seja colocar nos livros a idade ou segmento de idade para os quais são recomendados).
Algumas editoras, desejosas de "agradar ao mercado" e "aumentar a confiança dos consumidores nas suas escolhas", apressaram-se a anunciar a sua pretensão em generalizar esta indicação etária a todos os livros destinados aos públicos mais jovens.
Segundo estes mesmo editores, os autores por si representados foram previamente consultados e terão dado o "amén" a esta iniciativa, mas parece que não terá sido bem assim...
Felizmente, um coro de protestos levantou-se imediatamente e dezenas de escritores e ilustradores britânicos têm vindo a apresentar argumentos fortes para que esta ideia seja abandonada.
É que uma coisa são brinquedos que podem representar um perigo físico real para certas idades...
Uma coisa são roupas e sapatos que servem aos 5 e (em princípio) aos 10 já não servirão...
Uma coisa são papas, com glúten, sem glúten ou medicamentos...
Outra coisa ainda são livros escolares que cumprem um programa e se destinam a ensinar matérias...
E outra coisa, que não tem mesmo nada a ver com as anteriores, são livros-livros. Livros com histórias e ilustrações, com caminhos abertos ou que se vão abrindo, à medida que os nossos pés de leitores por dentro deles avançam (os pés pequenos avançam de uma maneira; os maiores, avançam de outra. Qual é o mal disso?).
Dizem os defensores desta ideia (incluindo alguns autores, é verdade) que as pessoas (coitadas...) não sabem escolher livros para crianças, que ficam muito baralhadas quando vão às lojas e que não têm paciência para ler os livros para melhor poderem decidir. Tudo isto pode ser verdade... e talvez seja necessário, até, criar formas de ajudar pais e educadores a fazer escolhas.
Mas fará sentido segmentar um objecto que pode (e deve) ter níveis de leitura tão variados? Fará sentido catalogar os livros e impedir a sua leitura por leitores de "determinadas" idades?
E se um leitor gosta de livros com poucas palavras e muito ilustrados mas, por acaso, "já tem" 12 anos, deverá ser encaminhado para a prateleira-etária "correcta" da livraria ou biblioteca?
Não deverá cada leitor ter direito ao seu caminho, ao seu ritmo, a escolher os livros que mais vontade tem de ler?
E, depois, já estou mesmo a ouvir os pensamentos de certos meninos-leitores (sempre desejosos de serem e parecerem mais crescidos): "Diz aqui 4 anos, por isso não é para mim". Mesmo que a mão curiosa até tenha vontade de folhear as páginas, mesmo que os olhos até tenham vontade de descobrir a história...
Em cada livro, cada leitor consegue descobrir os lugares para se agarrar e não cair, para avançar sem se perder (e se tropeçar ou se perder, pode sempre voltar para trás ou simplesmente trocar um livro por outro)... Por isso, fará sentido pôr um cadeado nas portas dos livros e só dar as chaves a determinados leitores? (Só esta palavra "determinados" é já extremamente irritante...)
Eu defendo que se deixem as portas abertas para que possam os leitores entrar à sua vontade!
Em Inglaterra a discussão vai continuar nos próximos dias.
Para seguir no Cadeirão Voltaire ou directamente no "The Guardian".
Eu por regra ofereço livros às crianças. Nem sempre são bem recebidos, mas eu continuo a fazê-lo. E adoro! Mas confesso que já me aconteceu comprar um livro para uma criança que conheço mal e não saber bem que tipo de livro oferecer e andar a ver se algum livro tinha idade "recomendada". Quando isto me aconteceu, pedi uma opinião à pessoa que estava na loja na secção infantil, ao que a pessoa me sugeriu um livro da disney... Eu conhecia melhor os livros infantis do que ela. Será assim tão disparatado por a idade? Não vou deixar de comprar um livro por ter uma idade que não é o que quero, mas pode ajudar a guiar algumas compras...
ResponderEliminarMas claro que quase todos os livros são para todas as idade!!!
Bjs Joana
e se nos apetecer oferecer a um adulto feito um livro, digamos, para 6 anos? podia tornar-se insultuoso... ou pelo menos insinuante
ResponderEliminar