segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Perdidos e achados



Aí por volta dos meus 16 anos fiz uma grande limpeza às prateleiras do meu quarto. Delas varri quase todos os vestígios da minha infância e isso incluiu, obviamente, livros.
Quase todos os livros, os meus e os da minha irmã, foram então atirados, sem dó nem piedade, nem ponta de saudade para vários caixotes de cartão onde ficaram à espera que fosse ditada a sua sorte... Aos 16 anos, todos os vestígios que nos dizem que já tivemos 6, 8, 10 e 12 anos são provas a apagar. E os meus livros, por muito que gostasse deles, deixaram de fazer sentido.

Resolvi então (muito filantrópica) oferecer os meus livros aos meninos da Enxabarda, a aldeia da minha avó, escondida entre serras, ali para os lados do Fundão.
Fiz lá chegar os caixotes, a achar que ia fazer uma revolução cultural na terra. Mas o tempo passou e, apesar dos esforços, a coisa demorava a organizar-se. Soube que já havia prateleiras, que havia muitas outras pessoas a dar livros, que os livros estavam até a ser catalogados, mas depois deixei de saber... e pensei que a biblioteca não tinha tido força para arrancar.



Os anos foram passando, deixei de ir tantas vezes à Enxabarda como no tempo das férias grandes. De vez em quando perguntava pelos livros, mas a certa altura perdi-lhes o rasto... pensei que se tinham dispersado (o que até não tinha mal nenhum).
Só que este ano tive uma supresa: ao lado da casa da minha avó, onde entretanto construíram um Centro Cultural e Recreativo, há agora uma sala onde os mais pequenos ocupam o tempo nas férias do Verão. Espreitei por curiosidade... e foi então que os vi: os meus livros (os meus queridos livros) estavam todos ali, ainda eram vivos e respiravam!
Os da "Anita", os do "Teo", os do "Hopi", os da colecção "ABC" e todos os outros, entretanto esquecidos, e que se acenderam na minha cabeça mal lhes pus a vista em cima.
Corri a fotografá-los: "a minha irmã tem que ver isto", pensei...

Mas, na verdade, não têm nada de especial "como livros": nem ilustrações extraordinárias, nem aquele charme que se descobre em qualquer coisa que não se via há muito tempo. Há alguns textos bons (como os de "Contos no Jardim", de Mª Isabel Mendonça Soares), mas há, sobretudo, muitos exemplares de envergonhar qualquer pessoa. Um livro da Sarah Kay, por exemplo. E como eu gostava dele...

Por razões de ordem estética, não mostro aqui os piorzinhos (o pessoal aqui do Planeta matava-me se pusesse aqui uma imagem dessa capa, por exemplo). Mas a fotografia já cá canta, para quando quiser matar saudades...


Reparem como esta mini-biblioteca, entretanto formada, é tão eclética: ao lado da Colecção "Uma Aventura" figuram obras como as "Memórias da Irmã Lúcia" ou "Intervenções e Reparações do Automóvel".

3 comentários:

  1. Benditos esses livros todos que contribuiram para fazer a maravilhosa autora que hoje és!lucy

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  2. Espectacular! Os nossos também foram dados a bibliotecas, e agora tambem tenho uma parva nostalgia. Quando me dá vou à feira da ladra recuperar alguns! Bjs

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  3. e eu sou testemunha deste facto real...a existência dos "benditos" livros!!
    pois só por acaso era eu que estava com as crianças, tornando-me,assim, uma assídua amiga desses livros durante o mês de agosto, pois foi através das suas histórias que entreti os meus meninos durante algumas quentes tardes de verão!
    por minha parte serão bem estimados, pois o livro é um tesouro que se deve preservar.

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