quarta-feira, 3 de junho de 2009

Lembrei-me desta história...

Há poucas semanas, a amiga de uma das nossas mães precisava de comprar um presente para a filha de outra amiga. Como estavam perto de uma livraria, a dita mãe sugeriu-lhe: "Por que é que não lhe ofereces um livro do Planeta Tangerina?" .
(Muito pouco imparcial esta mãe, mas "mãe é mãe".)

A senhora seguiu o conselho, entrou na livraria, mas não encontrou os livros imediatamente e deslocou-se ao balcão, explicando toda a história: que a filha de uma amiga fazia anos, que pensou em oferecer-lhe um livro do Planeta Tangerina, mas, que chatice, não estava a encontrar nenhum...
Resposta pronta, decidida e muito segura da menina do balcão: "Ah, nós temos esses livros, estão ali na prateleira. Mas, olhe, esses livros não são para crianças. São muito, muito difíceis... Porque é que não escolhe outra coisa?".

Acreditem ou não, mas mesmo sendo amiga de uma das nossas mães, a dita senhora não comprou nenhum dos nossos livros.

É o que se chama "contra-publicidade" e, em plena livraria, confesso que nunca me tinha ocorrido.

6 comentários:

  1. Costumo assistir a muitos comentários desse género, precisamente por pessoas que deviam também ser mediadores de leitura (nas livrarias, por exemplo). E ainda mais grave, não sabem ajudar os clientes, dão conselhos baseados na sua opinião pessoal, sem qualquer conhecimento de críticas literárias e sobretudo com pouca sensibilidade para os conteúdos ou ilustrações.
    Não tenho nenhuma editora, nem outro outro tipo de interesse, mas já tenho dado dicas ou encaminhado muitas pessoas que não conheço, mas que as vejo perdidas numa livraria.
    Um beijo aos habitantes do Planeta Tangerina, que fazem livros para todas as idades.
    Cristina, Évora.

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  2. Que chatice. E que enorme disparate, a todos os níveis.

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  3. Dear dwellers of Planeta Tangerina, sorry for not writing in Portugrese, but it would take centuries to me.
    I have a nice story to tell you.
    In 1926, Constantin Brancusi made his foirst exhibition in New york, invited by Edward Steichen, at the MOMA.
    When the woodden boxes containing his sculputres arrived at the custom office in New York, The custom officer in charge opened the first, saw "Bird in Space", and classified it as kitchen utensil. «Don't even try to convince me this is a bird,» he said, applying an exorbitant import tariff.
    Yes, it is a nice story, and makes everybody laugh. But it tells us also that your idea of what is art influences your idea of how an art work should look like. If your idea of art is narrow, what you consider a work of art is most often trivial (or a recognized classic)
    By analogy, your idea of what's a child influences your idea of how a children's book should be.
    What appalls me id the idea of childhood implied by statements like «It is not for children: it is too difficult.». If your idea of a child is narrow, the books you choose or suggest are ugly and useless.
    There are, of course, many things which are too difficult for children, but not as much as these people (like the bookseller you told about) think. In general, things are too difficult for us, adults. Children have the intelligence, opennes and energy to face enormous difficulties.
    Just try to imagine the complexity of the images a child in a trolley, during a short walk in a modern city, has to decodify. or how difficult it is to learn to walk, to dress by yourself. Now think of the most difficult book you have ever seen in your life.
    Dear dwellers of Planeta Tangerina, we "difficult-children's-books-publishers" should, one day, do as Constantin Brancusi and Edward Steichen did, back in 1926: they took the federal government of the Unites States to court, because it allowed an ignorant to be in a position as important as "custom officer". And they won.

    Ciao
    p

    (more on this anedocte in Rachel Cohen "A Chance Meeting: Intertwined Lives of American Writers and Artists, 1854-1967", New York, Random House, 2004)

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  4. Bom, eu sou livreiro e eu próprio adoro literatura infantil. Recomendo também de acordo com o meu gosto, daí que passe a vida a recomendar os vossos livros (juntamente com a OQO e a Bruáa entre outras). Se um livro infantil não me faz sentir um bocadinho de alegria ou tristeza (sim, porque também é preciso aprender que o mundo não é só coelhinhos e fadinhas) então não é um livro infantil que eu vá fazer uma leitura ou recomendar a ninguém.

    Parabéns pelo "Andar por aí" que me chegou hoje às mãos.

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  5. Olá Isabel!

    Eu também já assisti a uma história em Évora "espectacular".
    Uma amiga de uma das livreiras de uma das maiores livrarias de Évora entrou para comprar um livro infantil. Pediu-lhe uma sugestão e a Srª Livreira lá foi ver o que tinha, exclamando (mais ou menos isto): Deixa lá ver o que há porque os bonecos dos livros infantis hoje em dia é de "bradar aos céus", não se percebe nada!
    Final da história: a amiga levou um daqueles livros de princesas e de fadas que brilham por todos os lados, em que o texto encandeia qualquer leitor!
    É pena que as pessoas que trabalham nesta área, que são mediadores de leitura, não tenham nem sequer consciencia do seu papel, já para não falar da falta de interesse.

    Um beijinho
    Margarida
    Évora

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  6. Os vossos livros só são difíceis para os adultos ignorantes e com os horizontes muito limitados, nunca para as crianças!
    :)

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