Desde o centro, apanhando o Metro, chega-se num instante a Montreuil. Mas quando chegamos à superfície e desembocamos na animadíssima Rue de Paris ficamos com a sensação de estar já noutra cidade. Acabaram-se as ideias feitas sobre a "cidade da luz", as imagens dos postais, os boulevards e as lojas chiques. Aqui é outra coisa. Há lojas e restaurantes de ambos os lados, mas a mercadoria é diferente: comida libanesa, marroquina ou japonesa, lojas de tecido africanos, cartazes anunciando bailes, frutarias, churrascarias. Os parisienses que aqui moram chegaram dos quatro cantos do mundo e fizeram deste bairro da periferia uma segunda casa.
É mesmo aqui, junto à Rue de Paris, que o Salão de Montreuil abre todos os anos as suas portas. Desde 1983, ano em que uma equipa de animadores da leitura decidiu criá-lo, o Salão orgulha-se de não durar apenas uma semana, mas de se estender ao longo dos doze meses do ano, levando ateliers e animações às bibliotecas e escolas da região.
Durante a semana, as turmas das escolas chegam aos magotes vindas do centro e da periferia da cidade. Entram no salão, percorrem os corredores e depois sentam-se no chão a almoçar e a lanchar, ocupando todo o espaço livre. A circulação é difícil. O barulho é imenso, a excitação é grande. Durante os fins de semana, são as famílias a chegarem em peso para as sessões de autógrafos com autores, ilustradores e alguns heróis "verdadeiros", a assinar livros dentro de fatos de peluche. (Em Montreuil também há uma modalidade engraçada: em determinados dias e horas, penso que de menor confusão, as crianças podem visitar o Salão sozinhas. Há um "bureau" que as recebe e encaminha, mas é-lhes dado esse espaço de liberdade para deambularem entre livros e fazerem as suas escolhas).
Para além dos stands das editoras (este ano eram mais de 300, quase todas francesas), há exposições (este ano foram os Príncipes e as Princesas a inspirar o Salão), ateliers, espaços para leitores de todas as idades. No espaço ADOS, para os adolescentes, o ambiente é escuro, há almofadas no chão e quem quiser pode sentar-se, encostar-se ou deitar-se a ouvir uma história ou participar numa conversa.
Em Montreuil só não houve tempo para desfrutar os livros como eles merecem (e os franceses, admitamos, sabem fazer livros).
Mas também não é má esta sensação de nos lembrarmos de alguns livros à distância. Apesar de avistados num ápice, alguns deles não se esquecem e, à medida que o tempo passa, aumenta a vontade de os ver com mais tempo numa próxima vez.
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