A minha avó Maria tinha galinhas. Viviam num casinhoto escuro ao fundo do quintal e só as víamos quando abríamos a porta para lhes deitar comida. Era também nessa altura, nesse breve intervalo em que a minha avó lhes deitava o milho e as cascas de fruta, que elas viam a luz do dia. Pelo menos foi a impressão com que fiquei: que viviam sempre no escuro, de porta fechada, e que mesmo assim punham ovos, extraordinários ovos pequeninos de gema cor-de-laranja que a minha avó estrelava em azeite (e que eram maravilhosos como todos os ovos estrelados da infância só podem ser).
A não ser para despejar o caldeiro das cascas e para procurar ovos, não convivíamos grande coisa com as galinhas. Víamo-las tal como a minha avó: como um animal puramente funcional que punha ovos e ajudava a estrumar a terra. E esta parte do estrume, não fiquem chocados, era tão ou mais importante do que os ovos.
A minha outra avó (a que chamávamos Santos, mas que também se chamava Maria) também tinha galinhas. Viviam num galinheiro mais convencional, com rede a toda a volta, mais ar e mais sol. Neste caso, havia pelo menos mais um galo e, num patamar superior, muitas rolas que esvoaçavam apertadas. A minha avó Santos tinha com as galinhas uma relação já um pouco diferente: dirigia-lhes a palavra; e quando deixou de as poder tratar, sentiu bastante a sua falta. (Um pormenor curioso: no lugar do galinheiro da minha avó nasceu hoje uma cabine de sauna à moda ucraniana. As voltas que o mundo dá...)
A galinha Celeste (que inspirou o livro "Como é que uma galinha..."), fazendo das suas no quintal do Planeta Tangerina, numa sequência fotografada pela Carolina.
Amanhã conto aqui a sua história (uma história de sucesso).
Queridas Isabel e Netian ... muito lindo e adoravel, tudo que fazem!!
ResponderEliminarBjos
Jun
A minha avó só tem uma galinha! Foi a única que restou porque põe um ovo por dia, por isso foi poupada da panela! Bom trabalho!
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