O que fazer com tantos minutos?
(Nós os que estamos habituados a que os minutos nunca cheguem)
Lavar as mãos.
E depois?
Fazer deslizar um livro da prateleira.
Escolher um sítio confortável.
Pensar que melhores dias hão de vir.
Regressar a um livro antigo (continua o mesmo?)
Procurar uma pequena bola amarela que se perdeu entre as páginas.
Pensar que tudo passa. Mesmo tudo.
Continuar a fazer o que deve ser feito.
Evitar andanças desnecessárias.
Seguir as recomendações das autoridades.
Manter a civilização.
Filosofar um pouco.
Desenhar (pelo prazer)
Cozinhar espargos e ervilhas (está na época).
Em caso de aflição, mergulhar numa empolgante história de amor...
Numa viagem cheia de desvios e aventuras.
Informar-se sobre o mundo (com moderação e escolhendo boas fontes)
Espantar-se com o que está cá dentro.
Matar saudades do que está lá fora.
Ligar a um amigo.
Rir com coisas sérias.
Continuar.
No dia seguinte, um livro novo.
De mãos lavadas e sempre juntos.
