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O Gémeo Luís vai mostrar alguns originais da sua mega colecção de ilustrações.
Com alguma pena minha só consegui assistir a "um quarto" do Congresso Internacional de Promoção da Leitura da Gulbenkian. Ainda por cima cheguei atrasada, nessa manhã, e não sobravam já cadeiras livres no auditório principal onde decorriam as comunicações. Foi assim que fui parar a um dos auditórios extra onde é possível assistir, em directo, mas não ao vivo, às comunicações do auditório principal: entrei, procurei uma das poucas cadeiras vazias e sentei-me, esforçando-me por me manter atenta. Mas, não foi fácil.
Para além deste gap com o mundo real proporcionado pela projecção, a cadeira que escolhi não era muito favorável à concentração (o ângulo que formava com o ecrã só me deixava ver as imagens à tangente) e, para dificultar as coisas, as comunicações eram todas em inglês (e eu ainda sou do tempo em que era possível preferir o francês). Depois, confesso, não estava nos meus dias... Resultado: distraí-me, como me distraio tantas vezes em encontros deste tipo.
Tinha a pasta, que a Casa da Leitura simpaticamente disponibilizou, e foi assim que passei a manhã, mergulhando na leitura, para de vez em quando regressar à superfície e escutar o que se dizia (devo dizer que sempre que consegui estar atenta, pareceu-me o conteúdo rico e interessante).
Um dos dossiers entregues pela Casa da Leitura é composto por um conjunto de depoimentos recolhidos junto de leitores, professores, ilustradores, escritores, promotores da leitura, e também fotógrafos, cientistas e livreiros, aos quais foi pedida uma reflexão sobre o tema da própria conferência "Formar Leitores para Ler o Mundo".
Não foi tempo perdido esta leitura e ajudou-me a salvar a manhã...
Gostei especialmente do texto de Richard Zimler, pela sua simplicidade, pragmatismo, e método proposto que me parece, assim à distância, bastante eficaz.
Zimler defende a ideia de que cada leitor tem direito a fazer um percurso, a fazer escolhas e a ter preferências, mesmo que estas nos pareçam "de mau gosto" ou "erradas". Só, assim, seguindo as suas paixões e tendo hipótese de continuar a escolher, é possível chegar à grande literatura.
Aqui ficam alguns excertos:
"Quando os meus alunos me pedem um conselho, o único que lhes dou é: sigam as vossas paixões! Isto significa que eles devem escolher uma profissão e uma forma de vida que os estimule, que os entusiasme a continuar a aprender, que lhes dê o sentido de que estão exactamente onde deveriam estar.(...)
Sinto o mesmo relativamente à leitura. As crianças deveriam ser postas em contacto com uma grande variedade de livros, sobre diferentes assuntos, de amplas e diferentes culturas e deveria ser-lhes permitido escolher os que mais as estimulam e interessam.
Claro que isto significa que poderão escolher livros sobre moda, desporto, mitologia, Hindu em detrimento da Literatura Europeia Clássica. E depois? Eu não penso ser vantajoso obrigar um rapaz ou uma rapariga a ler Camões ou Jane Austen ou Racine (depois de fazer uma exposição inicial sobre estes autores) quando o que eles realmente querem é J. K. Rowling, uma biografia de Pelé ou o último romance de Danielle Steele."
(...)
Dêem aos jovens uma vasta escolha de livros e familiarizem-nos com todas as suas opções. Dêem-lhes uma oportunidade de aprender a amar a leitura, e depois encorajem-nos a seguir as suas paixões. E quando eles forem muitos pequenos, leiam-lhes todas as noites antes de dormir.
Talvez alguns partam de um gosto pela Bd para a mitologia grega, e depois para William Faulkner ou Stendhal. Talvez eles descubram o que faz a grande literatura grande. (...) "
Ilustração: Madalena Matoso