quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Um poema de Manuel António Pina

... a propósito de nada.

É então isto um livro,
este, como dizer?, murmúrio,
este rosto virado para dentro de
alguma coisa escura que ainda não existe
que, se uma mão subitamente
inocente a toca,
se abre desamparadamente
como uma boca
que fala com a nossa voz?
É então a isto que chamam "livro",
a este coração (o nosso coração)
dizendo "eu" entre nós e nós?


In Uma Luz de Papel, Edições Eterogémeas, 2007

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