sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Os Livros da Minha Infância (4)






Como um Radar

- A Floresta e A Fada Oriana, Sophia de Mello Breyner Andresen
- Meu Pé de Laranja Lima, José Mauro de Vasconcelos
- Graças e Desgraças da Corte de El-Rei Tadinho, Alice Vieira
- Colecções Uma Aventura, Asa Delta e Viagens no Tempo, Ana Maria
Magalhães e Isabel Alçada
- Colecções As Gémeas e O Colégio das Quatro Torres, Enid Blyton
- Colecção Enciclopédia Brown, Donald J. Sobol
- Diário, Anne Frank
- Mafalda, Quino

Os livros da minha infância estão (ainda) agarrados a lugares, a mesas, prateleiras e armários em casas de primos, tios, avós e amigos.
Lembro-me de achar sempre poucos os livros que tinha para ler, fazendo render até ao limite aqueles de que gostava mais. Lembro-me também da estranheza de alguns primos e amigos não gostarem de ler. Na altura parecia-me impossível, um equívoco, um mal-entendido que mais cedo ou mais tarde seria reparado.
Os livros eram sempre poucos, gastavam-se depressa como os sapatos e os cotovelos das camisolas, por isso havia que os procurar. Agora, à distância, imagino-me munida de uma espécie de radar, sempre que entrava em casa alheia. Que livros há aqui para ler?
Quartos novos, de amigos novos, representavam um território em potência, a explorar avidamente. (Hoje sou mais comedida e não mexo em prateleiras sem autorização. Mas ainda olho para as lombadas...)
Então, por casas e prateleiras:
Na despensa, em casa dos meus primos, uma pilha de metro e meio de livros do Patinhas. O paraíso.
Na mesa redonda do quarto da tia Nela, pequenos montes de livros que fui lendo nas férias, Alves Redol, José Régio, Torga...
No armário da televisão, em casa dos meus avós, uma fila empolgante de revistas das Selecções (dramas reais que era impossível não parar de ler).
Na mesa-de-cabeceira no quarto dos meus pais, O Crime do Padre Amaro, Os Cus de Judas, Sinais de Fogo (penso que alguém, lá em casa, os terá lido com entusiasmo e, apesar de só mais tarde ter lido um deles, também os considero livros da minha infância: estavam lá e tinham bom aspecto).
Finalmente, nas prateleiras do meu quarto, O Colégio das Quatro Torres, os livros da colecção Uma Aventura (que fui lendo à medida que saíam as primeiras edições), as colecções Viagens no Tempo e Asa Delta, a Mafalda, os livros de Alice Vieira e Sophia de Mello Breyner Andresen.
Quando li A Floresta, descobri-me totalmente dentro de um livro. Foi lá que encontrei a Isabel, 11 anos, como eu.

Isabel Minhós Martins

3 comentários:

Joana Souza disse...

Que lindo! Tão lindo :-)

Viva disse...

Como escreveu Isabel Martins, as leituras da nossa adolescência ( e não só) vão surgindo, saltando diante dos nossos olhos, em diferentes lugares, em diferentes momentos. Além dos que a Isabel encontrou na mesa de cabeceira da tia, eu fui encontrando na Biblioteca, os Cinco, mais tarde, Émile Zola, Simone de Beauvoir, Tolstoi e por aí fora. Sou de outra geração, mas sempre acompanhada de leituras...Os meus pais e outros familiares poucos livros tinham em casa, mas sempre os vi com livros na mão, porque iam à biblioteca da vila.

Rita Caetano disse...

Enviar um comentário a uma pessoa que escreve tão bem é uma tarefa muito, mesmo muito, difícil. Mas cá vai.
Adorei a descrição! A escritora já estava lá, devorando tudo o que ia encontrando para ler. Mas ri-me quando falou nas lombadas que vai vendo, e que já não mexe...às vezes é mesmo bom que não se mexa. Eu, que sou muito mais mal educada e continuo a tirar livros das prateleiras dos outros, já me aconteceu, numa Biblioteca, aparentemente, maravilhosa, tirar
isso mesmo, só uma lombada...porque era o que essa biblioteca tinha, lombadas fantáticas, sem livros! Logo, a Isabel tem muita razão, não se tiram livros de prateleiras alheias!