
Como sentinelas do livro, as guardas guardam, vigiam, protegem e defendem. Não me admirava que ganhassem dentes, garras e picos e se armassem de espadas, prontas a entrar em acção...

Para quem não conhece a palavra dentro do contexto em questão: as guardas são as folhas que resguardam o princípio e o fim de um livro. Podem ser feitas do mesmo papel do miolo, mas também é comum vê-las num papel mais forte que serve ainda melhor a sua função.

As guardas têm três missões importantes: rematam a capa, escondendo as colagens que resultam das dobras do papel da capa sobre o cartão; unem o conjunto de folhas do miolo à capa; e servem ainda para proteger este mesmo miolo e tudo o que de mais surpreendente ele pode conter.
As guardas podem ser lisas ou impressas. Podem ter padrões que se repetem, detalhes das imagens do interior ou ilustrações feitas à sua medida. Podem conter fichas técnicas, dedicatórias, agradecimentos. Podem servir para aproveitar o livro até à última gota ou apenas para o deixar respirar: no início, para ganhar fôlego; no fim, para recuperar da corrida das páginas.
Quando tal acontece, quando as guardas têm direito a vida própria, podem ultrapassar as suas funções de ordem mais prática ou funcional, e tornar-se importantes espaços de comunicação.
Por se colocarem "à entrada" e "à saída" do livro, servem de antecâmara para o que se vai passar, e de remate, no final. Mas, muitas vezes, acabam por funcionar como um suporte paralelo, quase à parte, um espaço livre e aberto à imaginação de ilustradores e designers.
Por serem elementos tão singulares, as guardas merecem um olhar atento. Porque não um prémio que distinga as melhores guardas de livros (à semelhança dos prémios que existem para capas)? E uma exposição de guardas também não seria má ideia...
Estas e outras guardas,
aqui.
Referências das imagens: 1. "The Junior Instructor, Book 1" por Adam McCauley (edição original de 1923); 2. "Child Craft Readers" por Carl Wiens; 3. "The Yellow Phantom" por Margaret Sutton (1933).