sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Três pássaros numa gaiola
Perigosamente próximo de ser dobrado, pisado, amarrotado, esventrado e sei lá eu que mais, encontrei ontem o fantástico "A tale of three little birds", de Bruno Munari, que trouxe das Palavras Andarilhas. Estava perdido e, imagino, confuso, entre a colecção de livros do quarto do Simão que, como é fácil de imaginar, contém alguns exemplares eventualmente chocantes (mas que fazem parte da vida de um rapaz de quatro anos, nada a fazer). Não reparei bem entre que livros repousava o de Munari mas, na melhor das hipóteses, talvez se encontrasse entre "A Charada da Bicharada" e "A Árvore Generosa", e, na pior, talvez dormitasse desamparado ao lado de uma revista das Winx que eu sei também fazer parte da dita prateleira (pois é...).
"A tale of three little birds" faz parte de uma série de livros pensados e construídos por Munari em 1945: álbuns com grandes imagens, encartes e buracos com muitas formas, que fazem do leitor um explorador que espreita, procura, abre, fecha... e em cada instante descobre a possibilidade de novas leituras.
Neste caso, para além da surpresa no modo como a história é revelada- existem três pequenos livros dentro do livro maior, cada um dedicado a um dos pássaros-, a história é também ela uma surpresa: três pássaros (Chiò, Chià e Chì) partilham uma gaiola em casa de um rapaz chamado Charlie. Conhecemos primeiro a história de Chiò que vivia numa árvore e foi recolhido por Charlie após ter sido atingido por um ramo; depois é a vez de Chià, capturada a meio de uma viagem e que vai parar a uma loja de animais (e mais tarde a casa de Charlie); finalmente a história de Chì, o mais pequeno dos pássaros, e que adivinhamos ser já filho de Chiò e Chià: abrimos o seu pequeno livro e duas frases bastam para recebermos um valente murro no estômago: "I haven't got a story to tell. I was born in a cage."
Munari não brinca. Os seus livros são do mais moderno que já se fez e sempre que os abrimos continuam a surpreender.
Lá em casa, no que diz respeito a livros há os "meus", os "teus" e os "nossos". Este é um dos "nossos", mas cheira-me que vai ficar por mais algum tempo na prateleira dos "só meus"...
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