terça-feira, 7 de janeiro de 2014

I Colóquio de Ilustração na FBAUL


Metade de nós — isto é, metade da equipa do Planeta Tangerina— estudou na Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Entrámos no início dos anos 90, quando a escola ainda se chamava ESBAL (Escola Superior de Belas Artes) e a Faculdade de Arquitetura morava feliz no último andar do edifício, antes da transferência para o desterro da Ajuda.
No pátio do convento de S. Francisco cruzavam-se então estudantes de arquitetura, design, escultura e pintura e também muita gente do cinema que vinha, desde o Conservatório, almoçar "ao pátio". O pátio era o centro de tudo, o coração da escola, a parte melhor de estudar, o lugar onde se apanhava sol e se ficava à conversa, o ponto de encontro onde se trocavam apontamentos e se cortava forte e feio na casaca dos professores. Nessa altura, os cursos ainda tinham cinco anos e existia um tronco comum a todos eles, com cadeiras míticas como Anatomia, Modelos ou Geometria Descritiva, esse pesadelo ministrado às oito em ponto da manhã, nas caves assombradas e geladas do convento. Depois, no terceiro ano, escolhia-se a variante a seguir, se o Design (de Equipamento ou de Comunicação) se as artes "puras e duras" (a Pintura e a Escultura). Como em qualquer outro lado, tivemos excelentes professores, outros que se estavam a borrifar, mas quase todos personagens com um certo carisma (isso conta!).
Quando entrámos não havia um único computador, ninguém aprendia a trabalhar com programas de paginação ou tratamento/ edição de imagem, quase ninguém falava de ilustração. Apanhámos um período de transição tramado, bastante desorganizado, já pairavam no ar as mudanças tecnológicas que se seguiriam, mas talvez a maioria dos professores não soubesse ainda lidar com elas. Quando saímos, já se respiravam outros ares e, de resto, trouxemos de lá outras coisas muito mais importantes do que dominar o photoshop – a Estética, a História de Arte, o Pátio, o Chiado.

Boas notícias são estas que nos chegam: quinze anos depois, organiza-se agora o I Colóquio de Ilustração da FBAUL, onde estarão, entre outros especialistas, antigos alunos da escola, como a Madalena, o Bernardo, o Nuno Saraiva, o André Letria ou a Teresa Cortez.
Quem organiza o encontro diz que há cada vez mais alunos interessados pela área. Ficamos mesmo contentes. Eu vou mais longe e digo que a ilustração é também uma arte pura e dura.
Why not?

O encontro é já esta quinta-feira, no grande auditório da escola.

Aqui mais informação.

3 comentários:

ana ventura disse...

:-) verdades!

Madalena disse...

Que viagem no tempo! Foi só ler História da Arte e Geometria Descritiva para mergulhar logo num outro eu. O Colóquio tem muito boa pinta, seria fantástico poder ir mas estou longe. Talvez haja sorte e ponham algum video online.

Anónimo disse...

...e as míticas festas no pátio (onde estudantes e pelintras de Lisboa inteira vinham trepidar os alicerces da cisterna), a cantina da escola (cuja especialidade era, ainda me lembro, crânio de coelho estufado), a misteriosa sala de serigrafia (com alienígenas a serigrafar afanosamente), a biblioteca à esquerda (chhh!), a escadaria de lioz em espiral (sem Rapunzel), o Laocoonte a espreguiçar-se na entrada (e a serpente enrolada no metatarso), os gessos clássicos no corredor com figuras de pé-de-gesso, a associação de estudantes a reivindicar non-stop, a bicha das cópias (sem duplo sentido), os apontamentos das aulas trocados, copiados, trasladados (sem panteão), os exames no anfiteatro (com o livro apoiado no colo, segundo consta...), as baldas (weeee...!), as notas na pauta (buuuu...!), os estudantes com mania (e óculos de massa), as raparigas giras, as Perséfones em gesso, as raparigas giras, os flirts, os sonhos, as aspirações, as conspirações, as deturpações, as insinuações (artísticas e outras) e, no fim, o selo oficial no diploma do curso (sem palmada nas costas). Bons tempos. Belas recordações! 
E agora Isabel, se me dás licença, vou pintar que tenho a tela à espera. Afinal não foi em vão que eu tirei um curso de Design de Comunicação.
Um abraço grande para vocês, de tamanho planetário.
Luís C A