O que te levou a concorrer ao I Prémio
Internacional de Serpa para Álbum Ilustrado?
Tinha este projeto feito há uns meses
e andava a tentar publicá-lo, mas com pouco sucesso. Por isso o
concurso veio em boa hora! Para ser sincera, não costumo
concorrer a muitas coisas e já tive más experiências com
concursos, por isso sou muito cuidadosa quando decido participar num.
Houve três fatores que me fizeram sentir que valia a pena concorrer: primeiro, este concurso ser organizado por uma entidade pública, em cooperação
com uma editora que eu já conhecia e de quem sigo o trabalho; segundo, o concurso não me obrigar a fazer ilustrações muito
específicas que depois não ia poder usar para mais nada; e, por
fim, não serem pedidas obras terminadas. Ou seja, o objetivo era ter uma
proposta para um livro que depois iria ser trabalhado com a editora para
melhorá-lo. Eu sabia que precisava desse feedback.
Que conselhos darias a um jovem
ilustrador?
Bem, eu também sou uma jovem
ilustradora... Acho que quando estás a estudar ou a começar a
carreira e tens acesso à internet 24 horas por dia, é fácil cair na
tentação de fazer scroll infinito no tumblr e desesperar porque “há
tanta gente com talento no mundo que raio estou eu aqui a fazer?!”
Com o tempo tive de aprender a aceitar
que, ainda que haja gente mais talentosa e mais inteligente que eu,
nenhum deles pode fazer exatamente aquilo que eu faço. Que a minha
voz é única, e isso para mim é razão suficiente para continuar.
Também ajuda sair de trás do
computador e ir a conferências, a workshops, a festivais... Quando
conheces os artistas que admiras em pessoa começas a perceber que aquilo que vês nos portfolios deles na internet é só a ponta de um icebergue de muito trabalho árduo e tentativas não tão bem sucedidas. Às
vezes, perceber o caminho que se levou para chegar lá é mais
interessante do que admirar só o resultado.
Como artista qual é o teu sonho?
Costumo dizer que
é ser auto-suficiente! Mas isso não é bem um sonho como artista,
mas mais o sonho como pessoa com contas para pagar... Sabes a sensação de quando voltas de
uma viagem? Quando sentes que as coisas são um bocadinho diferentes
por causa daquilo que viste e das experiências que passaste? E que,
pelo menos durante uns tempos, vais reparar em certos pormenores do
teu dia-a-dia de uma maneira nova e vais ter uma história engraçada
para contar a um amigo? Como artista gostava que o meu trabalho
tivesse o mesmo efeito nas pessoas.
(Entrevista conduzida por Paula Estorninho da Câmara Municipal de Serpa para o Boletim Informativo da cidade)
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