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O conjunto dos poemas agora premiado será editado em Março pela Quasi, sob o nome "Gaveta de papéis".
Enquanto o livro chega e não chega...
"A gente corremos pelas ruas da vila"
(de JLP, publicado no livro "Cal", da Bertrand)
O céu das hortas é maior do que
o mundo:
a vila apresenta ruas calcetadas para
homens de sapato fininho, mulheres
sozinhas e cachopos: eh, cachopo
de má raça.
Vamos aos figos e passamos
a vida:
a vila, às vezes, é desenhada
por esta aragem que é o lápis
de um carpinteiro. Quem é que é
o teu pai? perguntam os velhos
sentados num banco do jardim.
A gente corremos pelas ruas da vila.
Eu já vi as laranjeiras e as janelas
abertas no verão. Pranta-te quedo,
dizem as velhas de olhos pretos.
Vamos fazer um mandado, vamos dizer
o tempo:
porque a gente corremos pelas ruas da vila
e sabemos quem é a Ti Rosa do Queimado
e ainda não temos a cegueira de ser grandes.
(É pena não termos o texto em audio, com um diseur daqueles fenomenais).